"E não maltrate muito a arruda, se lhe nçao cheira a rosas..."

segunda-feira, 10 de junho de 2013

Meu sapato fez-me um calo.

 
De tanto rodear avenidas,
meu sapato fez-me um calo.
Falei com todos da rua,
pessoas batendo às portas
procurando por garrafas vazias.
Eu, sentada, assistia a tudo, atenta.

Rodei, dei a volta a esquina,
ali, parado, um senhor contava as moedas
recebidas do troco pela bebida:
"tá tudo caro, minha fia",
respondi com um sorriso,
"nem a bebida se salvou".

A cada passo, o salto me bloqueava,
entrando nas arestas
do calçamento fresco.
Adiantei, bati à porta:
"oh, de casa",
ninguém me ouvia.

Era ele minha agonia.
Eu sabia que ali morava,
mas a casa, desconfiava.
A chuva começa
sorrio, descrente:
"era só o que faltava".

No meio da rua ouvi um grito.
Sentada na área de casa,
uma menina mergulhava sua boneca
numa encharcada bacia.
"toma banho, filhinha".

Com os cabelos assanhados,
bati três portas,
não se ouve,
não se vê,
não se sabe,
de ti, ninguém sabia.

Finalmente ao fim da rua,
atirei os sapatos,
com os calos inflamados.
Avistei sua sombra
frente a uma porta.
Inteira, eu estava,

a você eu me entregava.

Por: Ana Paula Morais


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